Depois de uma
semana de crise pré-estréia, a semana passada enfim foi a estréia... São tantas
coisas para compartilhar que o texto ficou um tanto longo... por isso decidi
dividi-lo em sub-capítulos para não cansar a leitura... Um pouco do meu lado
acadêmico mas sem deixar o caráter pessoal do relato dessa pesquisa hehe... É
que nesta semana se encerrou a etapa do projeto aqui no Rio. A estréia
aconteceu na terça (05/3), na quarta (06/3) teve mais uma apresentação e sexta
(08/3) foi a última desta etapa. Como meu pai e minha mãe sempre me diziam:
Depois da tempestade, a bonança! :D
Estréia e batismo da Curalina
|
Estréia na Escola Odyla do Couto |
A estréia na Escola Estadual
Odyla do Couto foi gratificante! Depois de uma semana difícil essa semana está
sendo um presente a todo esforço desprendido de todos que estão participando
desta empreitada artística...
Só a viagem de trem até lá já foi
singular. Conhecer arredores mais distantes da cidade maravilhosa... Fomos
muito bem recebidos pela Escola... A diretora é daquelas (poucas) pedagogas que
fazem a diferença numa situação tão delicada em que está a educação brasileira!
E a contrapartida carinhosa dos jovens foi algo imensurável!
Do ponto de vista da pesquisa
artística vimos que as gags da
Curalina funcionaram, que o ritmo, apesar de ter sido melhor nos ensaios,
precisa de ajustes e assim percebemos em que momento o ritmo se ralentou...
Constatamos também que a palhaça consegue se sair das situações que se
apresentam. Isso é o mais difícil e era o que mais me preocupava: ter perdido a
Curalina... Em contato com o público vimos que a figura renasceu e parece
forte... está consistente nesse sentido porque conseguiu jogar com o público,
com o que propunham de inesperado! Surgiu namorado pra Curalina, filho com
pente na cabeça, novas gags na hora
em que a princesa se disfarça de príncipe dragão, etc... enfim, nervosismo
sempre faz parte de qualquer estréia, tentei canalizá-lo e transformá-lo em
energia pra cena e ao som de Queen (Don't stop me now) me aqueci, coloquei o
tremor de estréia em movimento; ofereci esta apresentação a minha irmã que
estava de aniversário neste dia e entrei em cena... saí dela melhor do que
entrei! :D
Apresentação em Manguinhos - lição de hoje: Não dê foco pra quem te leva
pra baixo na cena, sempre há quem quer trocar e é pra ela/e que você apresenta!
|
Da esq. para dir., Gigi, Eu (Drica), Karla e Vera no Parque Manguinhos |
|
No camarim |
|
No palco... |
|
Teatro do Parque Manguinhos - Casa da Mulher |
O espaço cultural Parque
Manguinhos possui uma infra estrutura maravilhosa. Nem esperava que a
apresentação iria ser num teatro, com todos os aparatos que uma caixa preta, um
palco a italiana exige. Até mesmo porque a proposta é que o espetáculo seja o
mais solto possível de condições técnicas para que eu possa levá-lo para as
escolas e outros espaços alternativos. O objetivo é permitir que os "tentáculos"
da arte da palhaçaria feminina alcance espaços geralmente não habitados por
essa arte.
O teatro em Manguinhos é super
bacana e fomos muito bem recebidos pelos técnicos do teatro. Tivemos um receio
com a falta de público pois a coordenadora disse que havia divulgado mas que
não conseguiu fechar com um público específico. Elaine Sallas, ótima para
solucionar assuntos apavorantes de urgência foi até a escola a frente e
conseguiu trazer algumas turmas para assistir. Entraram também outras crianças
da comunidade que estavam ali no parque... resultado: Teatro lotado!
A apresentação foi boa no sentido
de que me proporcionou desafios nos quais tive que solucionar em cena. Uns
resolvi bem e outros não... como karla disse muitas vezes coloquei foco demais
em quem estava me deixando pra baixo em cena, quase perdi tudo... e nesses deslizes que pudemos estudar como
então a palhaça deve seguir em determinados momentos, The Show must go on!! como disse Queen e relembrou Vera Ribeiro...
Foi uma apresentação um tanto árdua. Saí bastante esgotada energeticamente
falando... Mas o fato é que não foram o as dificuldades, ou a indisciplina de algumas
crianças que me incomodaram mas sim o peso que elas, como crianças
carregavam... o quanto algumas foram agressivas comigo e o quanto não era justo
elas estarem nessa situação, terem aprendido isso num caminho ainda tão
prematuro da vida... dava vontade de levá-las comigo e tentar apresentar algo
diferente enquanto experiência, enquanto vida... a gente se sente impotente...
Vontade de dar um tapa na cara de muito pai e muita mãe por aí... A maioria
está se esquecendo da verdadeira responsabilidade de se ter um filho e
compreendo que este problema é algo ainda maior que este pequeno fato. Tudo
isso me veio a mente com essa apresentação... Tento pensar em como fazer minha
parte, como palhaça... em não reproduzir e devolver a agressão a elas...como
adoçá-las com o riso? Não sei se consegui...o que sei é que elas na saída do
teatro não paravam de me olhar... me
abraçaram e me beijaram.... eu disse: agora vocês vem me beijar? Estavam me
xingando lá dentro... E elas não disseram nada, só me olhavam e continuavam a
me abraçar... nó na garganta me veio...
Melhor comemoração do Dia Internacional da Mulher!
|
Apresentação do CEDIM - entrada do auditório |
Última apresentação e o coração já estava a mil logo pela manhã. Cheguei cedo no CEDIM (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher) local onde ensaiei e onde foi a última apresentação desta etapa. O lugar estava com uma aura muito linda pelo dia especial que era... Me acalmei... me embriaguei pela aura de força e alegria que estava no lugar... A conquista daquele espaço pelas mulheres, os mulherões que circulavam por lá, a alegria e a leveza de vida que toda mulher tem e a presença de Karla Concá e Vera na minha vida... me acalmei. Só queria agradecer! E tinha prometido pra mim mesma que colocaria todas as minhas forças na apresentação em agradecimento a tudo... prometi pra mim mesmo "fazer bonito" , me divertir!
O dia foi muito especial porque além de ter sido a apresentação que mais me soltei e me diverti, fiquei feliz em ter a presença de pessoas muito especiais que vieram prestigiar meu trabalho: Lisa e Morgana minhas amigas anjo que acompanharam todo o projeto pois me propiciaram a estadia aqui, minha cunhada Miriam que levou seu lindo sorrisão e meu novo amigo Guilherme, querido ator aqui do Rio... Dia especial também porque As Marias me deram a honra de contracenar com elas. Agradeço muito pela confiança e pela generosidade com que cederam seu espaço de apresentação, pois na verdade no programa estava previsto somente a apresentação de "Zabelinha", ótimo espetáculo do Grupo. As Marias da Graça são um exemplo de profissionalismo e humildade juntos que chega a ser surpreendente. Sério, não estaria "puxando o saco" se a experiência aqui não tivesse sido boa.
As vezes a gente como artista acha que tem que se submeter a grosseria ou falta de respeito porque "fulano" ou "cicrano" é alguém de referência em tal prática, é um diretor famoso ou tem um trabalho espetacular etc... e não basta só isso, educação e gentileza é sempre bom, ainda mais quando se tenta dividir uma experiência, ainda mais quando alguém confia o seu corpo, seu trabalho a você. Para mim como atriz prefiro uma busca artística profunda sim, mas sem dor... Tem muitos profissionais de arte que acabam se tornando referência em alguma prática, e se tornam arrogantes a ponto de achar que, ser grosseiro com quem o procura pra aprender é normal... de modo particular, não sei se a arte que essa pessoa faz é arte no sentido complexo do termo. Não gosto de separar a capacidade exímia de artista numa linguagem de seu caráter como pessoa, afinal o espaço da arte no mundo é de subversão... Por isso As Marias são um exemplo! São referências na arte da palhaçaria feminina e ao mesmo tempo mulheres incríveis! Que souberam ser exigentes sim, mas não grosseiras! Que possuem a sabedoria de estar aqui e ser artista sem arrogância, porque todos caminhamos juntos! Aprendi demais e se as chamo de mestras não é por acaso! Não é bajulação...
Passei por esse processo e finalizo essa etapa muito satisfeita com tudo! Com as facilidades e as dificuldades que me apresentaram! E digo que houve crise, houve exigência mas não dor, não houve sofrimento, porque tinha pessoas que estavam comigo para me fazer crescer e não sofrer. Saio dessa experiência mais dilatada como atriz e como mulher. Agradeço demais, demais todas vocês que se dedicaram a este projeto como se fossem seus... Karla, Elaine e Vera, meu sincero e profundo afeto! E todos que me apoiaram aqui no Rio! Morgana e Lisa, parceiras de vida e teatro, me receberam muito bem em sua casa! A todas as Marias da Graça por apoiarem meu projeto, por acreditarem nele e por me aceitarem em seu ponto de cultura! Que todas continuem assim, sempre fortes e lindas palhaças! Que continuem levando esperança para muitas mulheres, e homens também! Que continuem surpreendendo com o riso esse mundo cada vez mais choroso!
Agora parto eu e Curalina de volta pra Florianópolis para a segunda a etapa do projeto: re-estrear a comunidade em geral e apresentar em 12 escolas públicas da ilha. Aguarde ilha da magia porque eu "Vô me escondê aí!"
Abaixo compartilho algumas fotos do grande dia:
|
Preparação |
|
mulheres palhaças reunidas no dia da mulher |
|
Eu, Lisa Brito e Ana Lua |
|
Eu e Morgana Martins |
|
A honra de contracenar com as mestras |
|
Querida Lisa... |
|
Geni Viegas |
|
Vera Ribeiro |
|
Karla Concá e Samanta Anciães |
|
As Marias da Graça no Espetáculo: "Zabelinha" |