Ensaio no Instituto Tocando em Você (Onde Karla Concá ministra aulas de teatro) |
Faz quase uma semana que não
posto... Tempo voa, ainda mais no Rio, ainda mais no Carnaval... vou aproveitar
esse post para compartilhar a
experiência dos 4 ensaios da semana passada. A semana toda foi muito intensa de
trabalho... percebemos, tanto eu como minhas mestras que estávamos exaustas na
sexta... no entanto, satisfeitas com o que descobrimos, digo isso porque tomo
como referência as conversas que tivemos...
A semana passada iniciamos a
experimentação da palhaça contando as histórias... Ensaiei segunda, terça,
quarta e sexta e a cada dia a prática exigiu muita energia de mim; tive que
realmente "rebolar no processo criativo". Como atriz percebo que ser
palhaça exige um jogo de intensidade em alto grau, não dá pra se descuidar
nunca, é 100% total, 100% presente, senão você perde o seu público, senão você
deixa a energia se esvair e se ela se vai, há de ser mais "ninja"
ainda para recuperá-la... o lema em cena é: não existe descanso! Assim, a cada
ensaio eu saí num estado de "exaustão estranha" (como se tivesse
corrido kms ou erguido peso) e de uma "digestão
criativa" (porque tinha que processar todo o acontecido) que emendava no
dia intenso seguinte e assim foi correndo até o fim da semana.
Mas tem um fator que também
colaborou para embaralhar o processo, o Carnaval. A cidade respira carnaval a
cada esquina e fato é que essa vibração entrecortou a dinâmica do projeto.
Impossível abstrair essa movimentação. Ao mesmo tempo tentei aproveitar claro o
quanto pude, afinal estou no Rio! No Carnaval! É um privilégio! Porém o
compromisso não me deixou um só momento. Fiquei com muitas tarefas para o
próximo ensaio que será dia 15 (sex), após um intervalo grande devido aos feriados de
Carnaval e o tempo urge!! Faltam muitos detalhes, figurino, parte gráfica,
etc...aiaiaa!! E faltam pouco mais que
duas semanas para já compartilhar o resultado do processo com o público. Ando
um tanto ansiosa e enquanto não ver as coisas se encaminhando não vou me
acalmar... o Carnaval está no contra-fluxo do meu ritmo... causou certa
suspensão na rotina do trabalho... a vibração em que a cidade se encontra
parece me deixar mais ansiosa ainda... sempre amei batuque e rebolar (como
muitos que me conhecem sabem hehe) mas confesso que o frenesi da batucada externa parece estar na contramão do meu ritmo
interno no momento, que requer um foco para que tudo corra bem no
projeto...enfim... Vou rebolando de leve, tentando seguir o fluxo das pessoas e
da cidade sem perder o foco... As 9 meninas que estão na casa onde estou
hospedada sabem o quanto estou preocupada com o projeto e me policiando para
não cair na farra, ainda mais com as companhias maravilhosas e animadas que são
elas.
Bom, voltando aos ensaios... Na
segunda (4/2) trabalhamos sobre a história "O Príncipe Dragão", na
terça (5/2) a história "O Braço de Morto", na quarta (6/2) a proposta
era repassar as duas histórias e na sexta (8/2) investir na história "Dona
Feia".
Karla e Vera me disseram que
estavam preocupadas com o pouco tempo que tínhamos para a pesquisa e levantar o
espetáculo. Eu também estava apreensiva quanto a isso... Mas a partir destes
últimos ensaios percebemos que funcionou bem o diálogo da palhaça
"Curalina" com a contadora de histórias. Um diálogo entre mim, Drica,
a contadora de histórias com a Curalina,
palhaça, que vem cada vez mais tomando forma dentro de mim. Um jogo onde eu
comigo mesma tento buscar fruição para descobrir a resposta da minha pergunta feita
lá no início do projeto: O que acontece quando uma palhaça conta uma história?
Nesses ensaios ela foi respondida. Pude visualizar o quanto e como a "lógica"
da palhaça perpassa a narração da história.
E foi muito interessante e
agradável ver o roteiro do espetáculo tomando suas estruturas através da lógica
da Curalina, que sou eu na forma mais ridícula (no muito bom sentido) e
autêntica de ser. Agora é só fixar algumas coisas e trabalhar, trabalhar... Em
teatro "Ha que se trabajar!" Essa frase ouvi na fala de um dos
personagens de um espetáculo arrebatador que assisti em Buenos Aires que por
sinal foi dita por um ator colossal... nunca mais esqueci... ela me impulsiona
quando estou insegura como atriz.
O maior desafio foi conciliar
toda a informação: lembrar a história, desconstruir a estrutura que já tinha
quando contava não como palhaça e experimentar as coisas que descobri como
recém palhaça Curalina. Isso... condensado num único momento, no ato da cena é
algo que demandou um grande esforço de atuação. Momentos antes de começar esse
"jogo interno" para criar e recriar a cena me dá milésimos de pavor,
parece que não vou conseguir ministrar tudo na hora da cena, aliás isso
acontece a cada vez que entro em cena, não só neste trabalho. O diferencial
deste processo é esse novo que faz brotar de mim coisas tão velhas sobre mim
mesmo: a palhaça Curalina Fosfosol. Ela está muito incipiente em suas
aventuras, mas traz verdade no que já tem; assim espero, assim busco...
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