quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Rebolando no processo criativo: em clima de Carnaval?


Ensaio no Instituto Tocando em Você (Onde Karla Concá ministra aulas de teatro)


Faz quase uma semana que não posto... Tempo voa, ainda mais no Rio, ainda mais no Carnaval... vou aproveitar esse post para compartilhar a experiência dos 4 ensaios da semana passada. A semana toda foi muito intensa de trabalho... percebemos, tanto eu como minhas mestras que estávamos exaustas na sexta... no entanto, satisfeitas com o que descobrimos, digo isso porque tomo como referência as conversas que tivemos...

A semana passada iniciamos a experimentação da palhaça contando as histórias... Ensaiei segunda, terça, quarta e sexta e a cada dia a prática exigiu muita energia de mim; tive que realmente "rebolar no processo criativo". Como atriz percebo que ser palhaça exige um jogo de intensidade em alto grau, não dá pra se descuidar nunca, é 100% total, 100% presente, senão você perde o seu público, senão você deixa a energia se esvair e se ela se vai, há de ser mais "ninja" ainda para recuperá-la... o lema em cena é: não existe descanso! Assim, a cada ensaio eu saí num estado de "exaustão estranha" (como se tivesse corrido kms ou erguido peso) e de uma  "digestão criativa" (porque tinha que processar todo o acontecido) que emendava no dia intenso seguinte e assim foi correndo até o fim da semana.

Mas tem um fator que também colaborou para embaralhar o processo, o Carnaval. A cidade respira carnaval a cada esquina e fato é que essa vibração entrecortou a dinâmica do projeto. Impossível abstrair essa movimentação. Ao mesmo tempo tentei aproveitar claro o quanto pude, afinal estou no Rio! No Carnaval! É um privilégio! Porém o compromisso não me deixou um só momento. Fiquei com muitas tarefas para o próximo ensaio que será dia 15 (sex), após um intervalo grande devido aos feriados de Carnaval e o tempo urge!! Faltam muitos detalhes, figurino, parte gráfica, etc...aiaiaa!!  E faltam pouco mais que duas semanas para já compartilhar o resultado do processo com o público. Ando um tanto ansiosa e enquanto não ver as coisas se encaminhando não vou me acalmar... o Carnaval está no contra-fluxo do meu ritmo... causou certa suspensão na rotina do trabalho... a vibração em que a cidade se encontra parece me deixar mais ansiosa ainda... sempre amei batuque e rebolar (como muitos que me conhecem sabem hehe) mas confesso que o frenesi da batucada externa parece estar na contramão do meu ritmo interno no momento, que requer um foco para que tudo corra bem no projeto...enfim... Vou rebolando de leve, tentando seguir o fluxo das pessoas e da cidade sem perder o foco... As 9 meninas que estão na casa onde estou hospedada sabem o quanto estou preocupada com o projeto e me policiando para não cair na farra, ainda mais com as companhias maravilhosas e animadas que são elas.

Bom, voltando aos ensaios... Na segunda (4/2) trabalhamos sobre a história "O Príncipe Dragão", na terça (5/2) a história "O Braço de Morto", na quarta (6/2) a proposta era repassar as duas histórias e na sexta (8/2) investir na história "Dona Feia".

Karla e Vera me disseram que estavam preocupadas com o pouco tempo que tínhamos para a pesquisa e levantar o espetáculo. Eu também estava apreensiva quanto a isso... Mas a partir destes últimos ensaios percebemos que funcionou bem o diálogo da palhaça "Curalina" com a contadora de histórias. Um diálogo entre mim, Drica, a contadora de histórias  com a Curalina, palhaça, que vem cada vez mais tomando forma dentro de mim. Um jogo onde eu comigo mesma tento buscar fruição para descobrir a resposta da minha pergunta feita lá no início do projeto: O que acontece quando uma palhaça conta uma história? Nesses ensaios ela foi respondida. Pude visualizar o quanto e como a "lógica" da palhaça perpassa a narração da história.

E foi muito interessante e agradável ver o roteiro do espetáculo tomando suas estruturas através da lógica da Curalina, que sou eu na forma mais ridícula (no muito bom sentido) e autêntica de ser. Agora é só fixar algumas coisas e trabalhar, trabalhar... Em teatro "Ha que se trabajar!" Essa frase ouvi na fala de um dos personagens de um espetáculo arrebatador que assisti em Buenos Aires que por sinal foi dita por um ator colossal... nunca mais esqueci... ela me impulsiona quando estou insegura como atriz.

O maior desafio foi conciliar toda a informação: lembrar a história, desconstruir a estrutura que já tinha quando contava não como palhaça e experimentar as coisas que descobri como recém palhaça Curalina. Isso... condensado num único momento, no ato da cena é algo que demandou um grande esforço de atuação. Momentos antes de começar esse "jogo interno" para criar e recriar a cena me dá milésimos de pavor, parece que não vou conseguir ministrar tudo na hora da cena, aliás isso acontece a cada vez que entro em cena, não só neste trabalho. O diferencial deste processo é esse novo que faz brotar de mim coisas tão velhas sobre mim mesmo: a palhaça Curalina Fosfosol. Ela está muito incipiente em suas aventuras, mas traz verdade no que já tem; assim espero, assim busco...

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